Ser Feminista em Angola: Desafios e Perspectivas para o Futuro | Being Feminist in Angola: Challenges and Perspectives for the Future

August 11, 2024

11 Aug, 2024

BY HWIMMA RODRIGUES MAVINGA

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A jornada de ser feminista em Angola é uma narrativa rica em desafios, resistência e esperança, moldada pela interseção complexa de questões políticas, sociais e culturais. Em meio a uma sociedade predominantemente patriarcal e, por vezes, conservadora, as mulheres em várias províncias de Angola têm enfrentado uma batalha constante para conquistar espaço e voz.

O movimento feminista angolano enfrenta uma série de obstáculos, desde resistências culturais até oposições políticas. No entanto, um fator inspirador é o surgimento de grupos feministas que se destacam na luta por igualdade de gênero e direitos das mulheres. Um exemplo notável é o coletivo Ondjango Feminista, fundado em 2016, que se reúne regularmente para discutir temas que vão desde representação política até direitos reprodutivos.

Além do coletivo Ondjango Feminista, outros movimentos feministas também têm emergido em Angola, como o Unidas Somos Mais Fortes, que busca unir mulheres em prol da defesa de seus direitos e da igualdade de gênero. Esses grupos demonstram a crescente mobilização e organização das mulheres angolanas na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.

Esses esforços não apenas desafiam as normas sociais arraigadas, mas também promovem uma conscientização crucial sobre as questões de gênero. A diversidade de pensamento dentro do movimento permite a construção de pontes de solidariedade e um engajamento sério na desconstrução do patriarcado.

A nova geração de feministas angolanas está na vanguarda dessa luta, desafiando continuamente as estruturas sociais hierárquicas e exigindo representação em todos os setores da sociedade. Elas estão determinadas a criar um futuro mais justo e igualitário, mesmo diante das críticas e resistências que enfrentam, seja dentro ou fora dos movimentos feministas.

Ser feminista em Angola é mais do que uma identidade; é um compromisso com a justiça social, a igualdade de gênero e a preservação dos direitos fundamentais das mulheres. Isso envolve ocupar o espaço público, denunciar abusos de poder e exigir mudanças tangíveis em uma sociedade muitas vezes adversa.

A nomeação como feminista é um ato de coragem e compromisso, especialmente em um contexto onde as mulheres enfrentam oposição de várias frentes, incluindo religião, família e Estado. No entanto, as feministas angolanas estão determinadas a desafiar o status quo e moldar um futuro onde todas as mulheres possam viver livres de opressão e discriminação.

Na sociedade angolana, infelizmente, persiste uma visão estereotipada das feministas como mulheres frustradas e infelizes no amor, incapazes de formar um lar tradicional com casamento e filhos. Essas mulheres muitas vezes são retratadas como rígidas e amargas, sem compreenderem a realidade das relações afetivas e familiares. No entanto, essa visão é um equívoco e não reflete a verdadeira essência do feminismo.

É importante destacar que o feminismo não busca negar a possibilidade de as mulheres se casarem, terem filhos ou formarem lares felizes. Pelo contrário, o feminismo defende o direito das mulheres de fazerem suas próprias escolhas, com quem ter suas relações amorosas quando e onde e o número de filhos que quer ter o espaçamento entre os filhos e terem autonomia sobre suas vidas, inclusive nas esferas pessoais e familiares. Ser feminista não significa abrir mão dessas aspirações individuais, mas sim buscar igualdade de direitos e oportunidades para todas, independentemente de suas escolhas de vida.

Mulheres casadas e com filhos podem ser tão engajadas no feminismo quanto aquelas que optam por outros caminhos. O movimento feminista reconhece e valoriza a diversidade de experiências das mulheres e busca promover uma sociedade onde todas possam viver com dignidade e respeito, independentemente de seu estado civil ou status familiar.

Portanto, é importante desafiar esses estereótipos e compreender que ser feminista não é um contrassenso em relação à vida familiar, mas sim uma busca por justiça e igualdade para todas as mulheres, em todas as áreas de suas vidas. É hora de reconhecer e celebrar a multiplicidade de vozes e experiências dentro do movimento feminista, incluindo aquelas de mulheres que escolheram seguir o caminho do casamento e da maternidade.

As mulheres angolanas enfrentam uma série de desafios, muitos dos quais estão intrinsecamente ligados às normas de gênero e à estrutura patriarcal da sociedade como: Acesso limitado à educação muitas mulheres em Angola enfrentam barreiras para acessar a educação de qualidade, o que limita suas oportunidades de emprego e desenvolvimento pessoal principalmente nas comunidades e em algumas províncias Luanda como capital não vive essa realidade, mas muitas são as comunidades que quando se tem dois filhos como exemplo um rapaz e uma menina, o rapaz pode até ser o menor mais os pais vão preferir que o rapaz tenha acesso a educação em vez da menina que corre o risco de nem sequer frequentar a escola. Isso cria uma desigualdade de gênero no mercado de trabalho as mulheres frequentemente enfrentam discriminação no mercado de trabalho, e menos oportunidades de avanço em comparação com os homens tudo pela falta de educação.

A violência contra as mulheres é um problema persistente em Angola, incluindo violência doméstica, agressão sexual e exploração. Muitas mulheres enfrentam dificuldades para denunciar esses crimes devido ao estigma social e à falta de apoio das autoridades e preparação das mesmas autoridades para lidar e acolher casos de género.

Vive-se também o acesso limitado à saúde reprodutiva, mulheres muitas vezes têm acesso limitado a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e cuidados pré-natais. Isso leva a taxas elevadas de gravidez na adolescência, complicações durante o parto e mortalidade materna. Temos ainda a carga desproporcional de trabalho doméstico e cuidados não remunerados, muitas vezes são as mulheres responsáveis pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos membros da família, o que pode limitar suas oportunidades de educação e emprego remunerado como disse la em cima quando os próprios pais muitas vezes preferem que os filhos homens tenham acesso a escola e não as mulheres porque muitas das vezes elas tem que estar nessas tarefas de cuidado. Já vemos algumas representações políticas femininas em Angola como é o caso de termos uma vice-presidente neste cargo e uma ministra das finanças quer dizer que as mulheres estão sub-representadas nos cargos de liderança política e tomada de decisão em Angola, e saiu-se um pouco dos cargos de cuidado como era o comum mulheres somente em cargos dos ministérios da educação, saúde e acção social, talvez  o que afalta é a sua capacidade de influenciar políticas que afetam as vidas das mulheres mais de forma mais apalpáveis mas já demos um enorme passo neste quesito de representação política. Como mencionado anteriormente, as feministas muitas vezes são estigmatizadas na sociedade angolana, vistas como mulheres infelizes e amargas. Isso pode dificultar o engajamento das mulheres no movimento feminista e a busca por igualdade de gênero.

Enfrentar esses desafios exige um esforço coletivo e contínuo para promover a igualdade de gênero e garantir os direitos e oportunidades das mulheres em Angola. Isso inclui políticas governamentais progressistas, campanhas de conscientização pública e apoio às organizações da sociedade civil que trabalham pelos direitos das mulheres

Como última análise, ser feminista em Angola é uma jornada de resistência, solidariedade e esperança. À medida que as mulheres se unem para desafiar as estruturas de poder existentes, estão pavimentando o caminho para um futuro mais inclusivo e igualitário, inspirando gerações futuras a se levantarem contra a injustiça e a desigualdade

Being Feminist in Angola: Challenges and Perspectives for the Future 

The journey of being a feminist in Angola is a narrative rich in challenges, resistance and hope, shaped by the complex intersection of political, social and cultural issues. In the midst of a predominantly patriarchal and, at times, conservative society, women in several provinces of Angola have faced a constant battle to gain space and voice. 

The Angolan feminist movement faces a series of obstacles, from cultural resistance to political opposition. However, an inspiring factor is the emergence of feminist groups that stand out in the fight for gender equality and women’s rights. A notable example is the collective Ondjango Feminista, founded in 2016, which meets regularly to discuss topics ranging from political representation to reproductive rights. 

In addition to the Ondjango Feminista collective, other feminist movements have also emerged in Angola, such as the Unidas Somos Mais Fortes (United We Are Stronger), which seeks to unite women in defence of their rights and gender equality. These groups demonstrate the growing mobilization and organization of Angolan women in the fight for a more just and egalitarian society. 

These efforts not only challenge entrenched social norms but also promote crucial awareness of gender issues. The diversity of thought within the movement allows for the construction of bridges of solidarity and a serious engagement in the deconstruction of patriarchy. 

The new generation of Angolan feminists are at the forefront of this fight, continually challenging hierarchical social structures and demanding representation in all sectors of society. They are determined to create a fairer and more equal future, even in the face of the criticism and resistance they face, whether inside or outside the feminist movements. 

Being a feminist in Angola is more than an identity; it is a commitment to social justice, gender equality and the preservation of women’s fundamental rights. This involves occupying public space, denouncing abuses of power and demanding tangible changes in an often adverse society. 

Living as a feminist is an act of courage and commitment, especially in a context where women face opposition from multiple fronts, including religion, family and the State. However, Angolan feminists are determined to challenge the status quo and shape a future where all women can live free from oppression and discrimination.

In Angolan society, unfortunately, there persists a stereotypical view of feminists as frustrated and women that are unhappy in love, incapable of forming a traditional home with marriage and children. These women are often portrayed as rigid and bitter, without understanding the reality of emotional and family relationships. However, this view is a mistake and does not reflect the true essence of feminism.

It is important to highlight that feminism does not seek to deny the possibility of women getting married, having children or forming happy homes. On the contrary, feminism defends the right of women to make their own choices. To choose with whom to have romantic relationships, when and where, and the number of children they want to have, spacing their children and having autonomy over their lives, including in personal and social fields. Being a feminist does not mean giving up these individual aspirations, but rather seeking equal rights and opportunities for all, regardless of their life choices. 

Married women with children can be just as engaged in feminism as those who choose other paths. The feminist movement recognizes and values ​​the diversity of women’s experiences and seeks to promote a society where everyone can live with dignity and respect, regardless of their marital status or family status. 

Therefore, it is important to challenge these stereotypes and understand that being a feminist is not a contradiction to family life, but rather a search for justice and equality for all women, in all areas of their lives. It is time to recognize and celebrate the multiplicity of voices and experiences within the feminist movement, including those of women who have chosen to follow the path of marriage and motherhood. 

Angolan women face a series of challenges, many of which are intrinsically linked to gender norms and the patriarchal structure of society, such as limited access to education. Many women in Angola face barriers to accessing quality education, which limits their employment and personal development opportunities, especially in the communities. In some provinces, like Luanda, the capital, they do not have this reality.  But in many  communities, when there are two children – a boy and a girl – the boy may even be the youngest, but the parents will prefer that he have access to education rather than the girl who runs the risk of not even attending school. This creates gender inequality in the job market as women often face discrimination and have fewer opportunities for advancement compared to men due to a lack of education. 

Violence against women is a persistent problem in Angola including domestic violence, sexual assault and exploitation. Many women face difficulties in reporting these crimes due to social stigma and the lack of support from the authorities and the preparation of the same authorities to deal with and receive gender-based cases. 

There is also limited access to reproductive health. Women often have limited access to reproductive health services, including contraception and prenatal care. This leads to high rates of teenage pregnancy, complications during childbirth and maternal mortality. We also have a disproportionate burden of unpaid domestic and care work. Women are often responsible for domestic work and caring for family members, which can limit their opportunities for education and paid employment as mentioned above when the parents prefer that male children have access to school and not female children because they often have to be involved in these care tasks. We already see some female political representation in Angola – we have a vice president and a finance minister. Women are underrepresented in political leadership and decision-making positions in Angola. And the care positions were a little left behind as it was common for women only to have positions in the ministries of education, health and social action. Maybe what is missing is the capacity to influence women’s lives in a more tangible way, but we made a big step with political representation. As mentioned previously, feminists are often stigmatized in Angolan society, and seen as unhappy and bitter women. This can make it difficult for women to engage in the feminist movement and the search for gender equality. 

Addressing these challenges requires a collective and continuous effort to promote gender equality and guarantee the rights and opportunities of women in Angola. This includes progressive government policies, public awareness campaigns and support for civil society organizations working for women’s rights. 

Ultimately, being a feminist in Angola is a journey of resistance, solidarity and hope. As women come together to challenge existing power structures, they pave the way to a more inclusive and equitable future, inspiring future generations to stand up against injustice and inequality.