BY SILVIA ERNESTINA DYWILI
Existe uma idade certa para casar? Mas quem a define? Confesso que nunca antes fui tão interrogada sobre minha vida e saúde amorosa como nos últimos tempos. Pensei que fosse uma mera coincidência tantas pessoas questionarem-me sobre isso.
Até que parei para refletir sobre o porque repentinamente tantas pessoas puseram-se preocupadas com minha vida, aliás estão preocupadas com o facto de não ter me casado ainda, não estar numa relação “oficial” e não estar de casamento marcado como a maioria das mulheres da minha idade.
Fui a fundo na minha reflexão, lembrei-me de algumas pontos que pareciam repetitivos, que a maioria dos meus “interrogadores e interrogadoras” usavam para sustentar seus posicionamentos, de forma resumida passo a citar apenas três, pois penso que são as que desencadeiam uma série de debate e formação de ideias, pelo que são:
- Ser mulher;
- Estar com vinte e poucos anos;
- A preocupação com a “oficialização vs aceitação”
Aparentemente é algo que não apresenta qualquer constrangimento ou até mesmo uma ligação directa, facto é que para nós mulheres começa aí algumas relações de conflito com os outros e com o nosso interior.
O facto de me ser cobrado casar ou firmar uma relação, por ser mulher é mais um dos processos opressores a que nós mulheres estamos expostas, fruto da pressão social construída pelo machismo, que obriga-nos praticamente a servi-los e a ser igual uma das outras mesmo sendo sujeitas de percepções diversificadas e independentes porém sororas umas com as outras. Para mim, o facto liga-se à teoria mercantilista (as mulheres são todas iguais) para deixarmos de ser quem sonhamos, pessoas completas mesmo sem eles, dignas de respeito, direitos e liberdade.
Estar com vinte e poucos anos de idade, ser mulher e estar solteira socialmente é uma forma de estar que constrange e inibe algumas mulheres de seguirem a sua própria história e assumirem-se como senhoras de seus destinos.
Na corrida para preservar o bom nome, o medo de não corresponder às expectativas, e de “falhar em público”, para algumas mulheres é algo fatal e inconcebível para as famílias a que muitas de nós está inserida, ser visto como um membro estranho é doloroso em parte e mexe com todo um processo de construção de um “EU” fora e dentro de nós, mexe com a auto-estima, com tudo o quanto somos e desejamos ser.
É um dos maiores desafios sermos nós todos os dias, carregadas de sonhos que as pessoas que mais amamos sonharam por nós e descubrir que no fim muitas vezes não reflete nem de longe quem somos.
É frustrante quando ouvimos dizer ou acusam-nos de ter marido da noite porque simplesmente não desejamos naquele momento viver uma relação a dois mas a decisão de nos assumirmos como nossa própria parceira (companheira da nossa companhia).
Percebe-se daí que para algumas o fardo sai-lhes mais pesado ainda, assumir um “EU” independente e livre de cobranças sociais.
Entendendo muitos dos desafios que passamos pelo simples facto de sermos mulheres mesmo ciente da existência de mulheres capazes de tomarem as rédeas das suas vidas, elas são diminuídas e lhes retirada o poder de participar em alguns espaços sociais por escolheram ser elas as capitãs de suas vidas.
Por essa razão assistimos cenários penosos e alguns hilariantes de mulheres que concorrem a vaga de noivas e esposas no mercado machista mesmo contra seus desejos/vontades, numa velocidade que remete ao desespero aguçado de tomarem o status de esposa de um tal homem.
O dilema da idade certa para casar, para mim é sem dúvida um ponto para refletir em uniões forçadas, não significando relação de uma menor com um adulto apenas, mas na desconsideração do direito de escolha da mulher, na ocupação de espaços, a não percepção da diversidade como uma ponte de desenvolvimento social e a desvalorização da mulher enquanto contribuinte independente, em prol de um código social que desvincula estórias de vida própria para estorias colectivas que conta a história do homem como protagonista e a mulher como figurante, cala vozes retira espaços e poder as mulheres.
A verdade é que enquanto isso acontece, desencadeiam-se desequilíbrios sociais que não estamos preparados ainda para resolver, os ditos conflitos conjugais que muitas vezes não são analisados de forma minuciosa e livres de preconceitos concorrem para o caos social a que vivemos nos nossos dias. Os tais que consistem em relacionamentos abusivos que suscitam dados estatísticos de elevadíssimos números de violência nas famílias um pouco por todos os membros mas com maior incidência para as mulheres que terminam em homicídio (muitas vezes), pessoas mais estressadas, âmbito da saúde pública, depressão angústia e mudanças radicais do modo de ser e estar por causa de experiências frustradas.
A idade certa para casar é um processo que cada uma devia ser chamada a refletir, não só pelo facto de constituir direito de escolha (quando e com quem) ou de decisão sobre nós mesmas mas pelo que sentimos no nosso interior, nas mudanças que isso causa, definir idade certa para casar talvez seja uma imposição sutil que mexe com tudo à nossa volta e connosco, a gestão dessa pressão culmina com ciclos de frustrações dores profundas.
Talvez não fosse a pessoa indicada, talvez ainda precise de tempo, ou talvez esse tempo nunca chegue, talvez fosse agora… Sozinha pudesse questionar-se quem decide sobre quando você deve ou não casar-se? Existe uma idade certa para casar? Importa a idade ou você?
Talvez seja mais uma oportunidade para exercitarmos nossa mente numa reflexão profunda, pensarmos fora da “caixa” para uma análise minuciosa dos factos.
Why do you oppress us, ask the women!
Is there a right age to get married? Who defines it? I confess that I have never before been so questioned about my love life and health as I have recently. I thought it was a mere coincidence that so many people asked me about this until I stopped to reflect on why people were suddenly worried about my life. The truth is that many are concerned about the fact that I haven’t gotten married yet, that I’m not in an “official” relationship and that I’m not scheduled to get married like most women of my age.
I went deep into my reflection, and remembered some points that seemed repetitive, that most of my “interrogators” used to support their positions. In summary, I will mention just three, as I think they are the ones that trigger a series of debates and the formation of ideas.
- Being a woman;
- Being in your early twenties;
- The concern with “officialization vs acceptance”
When men are single, it does not present any problems. The burden of not being married and not having children falls on women, placing barriers on them. The fact that I am asked to get married or enter into a relationship, because I am a woman, is yet another of the oppressive processes that women are exposed to. It is a result of social pressure built by sexism, which practically forces us to serve the patriarchy even though we are subject to diverse and independent perceptions. For me, this is linked to the mercantilist theory (women are all equal) so that we stop being who we dream of: complete people worthy of respect, rights and freedom even without men.
Being in your early twenties, being a woman and being socially single is a way of being that constrains and inhibits some women from following their own story and being the masters of their destinies. Socially single women are always asked why we don’t have a ring on our finger yet, subjected to a barrage of questions and if we respond that we are single by choice we are subjected to even more scrutiny and judgment!
In the race to preserve respectability and the fear of not living up to expectations, women “failing in public” is seen as something fatal and inconceivable for the families that many of us are part of. Being seen as a strange family member is painful in part and affects the entire process of building a ‘self’ outside and within us. It affects our self-esteem, with everything we are and want to be.
To be ourselves is one of the biggest challenges every day. Often, we are full of dreams that the people we love have dreamed for us – only to discover that these don’t even remotely reflect who we are. It’s frustrating when we are accused of having a husband of the night because we simply don’t want – at that moment – to be a part of a couple but rather have decided to become our own companion.
It can be seen that for some, the burden is even heavier to assume and it is necessary to understand many of the challenges we go through, simply because we are women. Even though we are aware of women’s capability to take control of their lives, they are diminished and their power to participate in some social spaces is taken away because they chose to be the captains of their lives and forge an independent ‘self’ free from social demands.
For this reason, we see painful and hilarious scenarios of women who compete for the position of brides and wives in a sexist market even against their desire/will, at a speed that points to the acute desperation to take on the status of wife of a man.
The dilemma of the right age to marry, for me, is undoubtedly a point to reflect on forced unions – not in relation to a relationship between a minor and an adult but the disregard of a woman’s right to choose – in the occupation of spaces, the lack of perception of diversity as a bridge to social development and the devaluation of women as independent contributors. It bears to reflect on social codes that separate personal life stories from collective stories that tell the story of men as protagonists while the woman is depicted as merely an extra or a silenced voice, taking away space and power from women.
The truth is that while this is happening, social imbalances are triggered that we are not yet prepared to resolve: the so-called marital conflicts that are often not analyzed in detail and free from prejudice contribute to the social chaos that we live in today. Abusive relationships give rise to violence in families, a higher incidence of female homicide, stressors and public health incidents such as depression, anguish and frustration due to radical changes.
The right age to get married is a process that each person should be called upon to reflect on, not only because it constitutes the right to choose (when and with whom) or to decide about ourselves, but because of what we feel inside, the changes that this causes. Defining the right age to get married is perhaps a subtle imposition that affects everything around us and ourselves. Managing this pressure culminates in cycles of frustration and deep pain.
Maybe he wasn’t the right person, maybe he still needs time, or maybe that time will never come, maybe it will be now – you and you alone must ask yourself who decides when you should or shouldn’t get married. Is there a right age to get married? Does this matter to you? Perhaps this is an opportunity for us to deeply reflect and think outside the box.