Corpos | Bodies

August 11, 2024

11 Aug, 2024

BY Mangia Macuacua

Photo by Align Towards Spine on Unsplash

Corpos 

Que mundo é este?

Que carregar corpo deixou de ser profissão do coveiro

Tornou-se negócio sem lucro mas com luto

Cresci com medo do sangue da galinha

Mas agora o sangue humano emana 

Como se água da torneira fosse

Que o povo forma filas para ter em sua casa

Me escondia ao ver a arma 

Não por medo e sim por respeitar

Aos que lutaram pela liberdade 

Não é hoje

Que a arma ocupa o espaço da colher

A arma é quem dá de comer nas casas

Sem mesmo que haja polícia  na casa

Fugi sempre dos carros com vidros fumados

Porque os filmes sempre mostraram que se tratava do Bandido da fita

Mas agora virou segurança escurecer o vidro 

Para que o opressor não te veja mesma sabendo que é seu carro 

Comprimentei desconhecidos

Como tio, mano e vovó

Mas agora corro sem olhar para trás 

Pelo simples bom dia de um desconhecido 

Afinal que mundo é este?

Vestir roupa é regulado por homens e mulheres

Falar de sexualidade é crime

Antes que pecado

Mulher com dinheiro 

É resumida a venda do sexo que sua própria inteligência 

Que mundo é este? 

Sair de casa era mais seguro com licença do governo 

Que por escolha sua! 

No escuro desapareço

No escuro apareço

Enrolada em capins e lençóis que desconheço

Até quando serei alvo da opressão?

Nota: Este poema é inspirado nas guerras neocoloniais e decoloniais existentes no mundo e em partilhar faço-o reflectindo sobre o Feminicídio em Moçambique bem como o conflito armado em Cabo-Delgado e na Palestina. Espero que com ele eu possa chorar junto às famílias que perderam suas famílias e caminhos tortuosos e violentos.Não é sobre o corpo isolado apenas é também sobre os corpos crivados de balas na sua pura inocência.

English Translation

Bodies

What world is this?

That carrying a body is no longer a gravedigger’s profession

It has become a business without profit, laden with grief

I grew up afraid of chicken blood

But now human blood flows

Like tap water 

That people line up to have in their homes

I hid when I saw the gun

Not out of fear, but out of respect

To those who fought for freedom

It’s not today

That the gun takes up the space of the spoon

The gun is what feeds the houses

Without even having police in the house

I always avoid cars with tinted windows 

Because the films always showed bandits in them

But now it’s become safe to darken the glass

So that the oppressor doesn’t see you even though they know it’s your car

I greeted strangers

Like uncle, brother and grandma

But now I run without looking back

From a simple good morning from a stranger

After all, what world is this?

Wearing clothes is regulated by men and women

Talking about sexuality is a crime

Before it is a sin

A woman with money

Is summed up by the sale of sex rather than her intelligence 

What world is this?

Leaving home was safer with a government licence

Than with your own choice!

In the dark I disappear

In the dark I appear

Wrapped in grass and sheets that I don’t recognize

How long will I be the target of oppression?

Note: This poem is inspired by the neo-colonial and de-colonial wars that exist in the world and in sharing this, I reflect on the femicide in Mozambique as well as the armed conflict in Cabo-Delgado and Palestine. I hope that with this I share the pain with families who lost their families through tortuous and violent paths. It’s not about the isolated body, it’s also about the bodies riddled with bullets in their pure innocence.