BY Mangia Macuacua
Corpos
Que mundo é este?
Que carregar corpo deixou de ser profissão do coveiro
Tornou-se negócio sem lucro mas com luto
Cresci com medo do sangue da galinha
Mas agora o sangue humano emana
Como se água da torneira fosse
Que o povo forma filas para ter em sua casa
Me escondia ao ver a arma
Não por medo e sim por respeitar
Aos que lutaram pela liberdade
Não é hoje
Que a arma ocupa o espaço da colher
A arma é quem dá de comer nas casas
Sem mesmo que haja polícia na casa
Fugi sempre dos carros com vidros fumados
Porque os filmes sempre mostraram que se tratava do Bandido da fita
Mas agora virou segurança escurecer o vidro
Para que o opressor não te veja mesma sabendo que é seu carro
Comprimentei desconhecidos
Como tio, mano e vovó
Mas agora corro sem olhar para trás
Pelo simples bom dia de um desconhecido
Afinal que mundo é este?
Vestir roupa é regulado por homens e mulheres
Falar de sexualidade é crime
Antes que pecado
Mulher com dinheiro
É resumida a venda do sexo que sua própria inteligência
Que mundo é este?
Sair de casa era mais seguro com licença do governo
Que por escolha sua!
No escuro desapareço
No escuro apareço
Enrolada em capins e lençóis que desconheço
Até quando serei alvo da opressão?
Nota: Este poema é inspirado nas guerras neocoloniais e decoloniais existentes no mundo e em partilhar faço-o reflectindo sobre o Feminicídio em Moçambique bem como o conflito armado em Cabo-Delgado e na Palestina. Espero que com ele eu possa chorar junto às famílias que perderam suas famílias e caminhos tortuosos e violentos.Não é sobre o corpo isolado apenas é também sobre os corpos crivados de balas na sua pura inocência.
English Translation
Bodies
What world is this?
That carrying a body is no longer a gravedigger’s profession
It has become a business without profit, laden with grief
I grew up afraid of chicken blood
But now human blood flows
Like tap water
That people line up to have in their homes
I hid when I saw the gun
Not out of fear, but out of respect
To those who fought for freedom
It’s not today
That the gun takes up the space of the spoon
The gun is what feeds the houses
Without even having police in the house
I always avoid cars with tinted windows
Because the films always showed bandits in them
But now it’s become safe to darken the glass
So that the oppressor doesn’t see you even though they know it’s your car
I greeted strangers
Like uncle, brother and grandma
But now I run without looking back
From a simple good morning from a stranger
After all, what world is this?
Wearing clothes is regulated by men and women
Talking about sexuality is a crime
Before it is a sin
A woman with money
Is summed up by the sale of sex rather than her intelligence
What world is this?
Leaving home was safer with a government licence
Than with your own choice!
In the dark I disappear
In the dark I appear
Wrapped in grass and sheets that I don’t recognize
How long will I be the target of oppression?
Note: This poem is inspired by the neo-colonial and de-colonial wars that exist in the world and in sharing this, I reflect on the femicide in Mozambique as well as the armed conflict in Cabo-Delgado and Palestine. I hope that with this I share the pain with families who lost their families through tortuous and violent paths. It’s not about the isolated body, it’s also about the bodies riddled with bullets in their pure innocence.